Neo: definitivamente, de cara nova

Depois de dois meses de recesso de férias e poucas atividades extraordinárias, no Centro Cultural de Laranjeiras (CCL), o Neo está de volta. Nessa edição de arrancada de 2008, o informativo eletrônico do centro cultural reafirma o significado de seu nome, trazendo, além de boas notícias, um formato novo.

Você continua a receber em seu e-mail a edição mensal do Neo que, contudo, abandona sua versão em pdf para assumir um meio com fins inteiramente eletrônicos: um blog, atualizado constantemente para trazer novidades ao longo do mês. Trata-se de um meio eletrônico que se complementa com o site do CCL e de outros centros culturais do Rio de Janeiro.

Entre as informações que você encontra aqui, estão acontecimentos desses meses de férias, um concorrido programa de atividades e as expectativas de mudança do próprio centro cultural, de Laranjeiras para Botafogo, que deve ocorrer ainda neste mês. Ainda, ao longo de março, você poderá conferir postagens com trechos da entrevista dada pelo professor Rodolfo Petrônio, palestrante durante o convívio de verão em Mira-Serra, que alia filosofia e física e promete provocar uma agitação na maneira como vemos o mundo. A conferir.

Agenda cultural

CARMINA BURANA
O primeiro concerto da série “Ciclo todos os pianos”, a cantata cênica composta por Carl Orff na década de 1930 será apresentada na Sala Cecília Meireles, às 8pm da sexta-feira 07 de março. Além dos solistas, pianistas e do Quarteto Dínamo de Percussão, a participam os coros Infantil da UFRJ, Companhia Bachiana Brasileira e Brasil Ensemble (integrado também por freqüentadores do CCL).
O ingresso varia entre 10 e 20 reais.


FAMÍLIA FERREZ: NOVAS REVELAÇÔES
Exposição que traz 396 fotografias tiradas por três gerações da família de fotógrafos, que cobrem o final do século XIX e início do XX, com imagens feitas na França, Suíça, Senegal, Bahia, Minas, Goiás, Pernambuco e Acre, além de registrar as transformações urbanas sofridas pela cidade do Rio de Janeiro (com destaque para a sala que mostra o processo de desmonte do Morro do Castelo).
O melhor de tudo: é grátis! Até 04 de maio, no Centro Cultural Banco do Brasil.

Artigo cultural

Sangue Negro: eis um clássico e ninguém notou
por Thyago Mathias

Morte, brutalidade, mentira, desencontro e decadência moral. Faltam finais felizes na atual temporada de cinema, mas isso não é novo. Todos que gostam ou acham que podem palpitar sobre cinema já o disseram. Alguns se irritam. O que parece passar despercebida é a pretensão de filmes oscarizáveis ao status de “clássicos”. Aqueles que se irritam, não vêem essa virtual qualidade. Dizem simplesmente que 2007 carece de um grande filme. Sangue Negro (There Will Be Blood, EUA) talvez seja o mais brutal dentre eles e também o que se pretende mais clássico.

As 2h39min de duração podem até parecer longas, em alguns momentos. Entretanto, quem consegue ver um verdadeiro clássico sem se cansar, ainda que por um breve instante? É preciso ter fôlego. A falta dele resulta em salas de cinema vazias, que não fazem jus aos méritos do filme. A fotografia alterna os melhores momentos de John Ford, com planos que visam dar dimensão ao oeste intocado, com os de Stanley Kubrick, na seqüência inicial, dentro de uma mina de prata, por exemplo, que muitos consideram nauseante. O roteiro, adaptado do livro Oil!, não contempla mulheres nem mocinhos. O confronto entre o prospector de petróleo Daniel Plainview e o pastor arrivista Eli Sunday (respectivamente interpretados por Daniel Day-Lewis e Paul Dano), por boa parte dessas duas horas, leva a platéia a pensar que está diante de um duelo de gigantes. Só não se compararia, no imaginário, a Luke Skywalker vs. Darth Vader, porque ali, na Califórnia do início de século XX, onde definitivamente não há lugar para os fracos, a briga é de mal contra mal. Ali, não há Davi contra Golias. As atuações que ultrapassam a loucura que se esconde por trás da realidade, em certo momento, não deixarão dúvidas de que o mais forte vence, porque o nanico é só alguém que se considera esperto demais.

Na essência desses dois encontra-se o coração do filme, mais do que no retrato da nascente indústria petrolífera americana, que fez a fortuna de Rockefeller e alimentou a esperança de outros empreendedores, e da consolidação do oeste e da família americana, que bem poderiam estar, todos, num apêndice da “Ética protestante” de Max Weber.

Plainview e Sunday podem não ser bons sujeitos, mas ninguém nega que tenham espírito. Passada uma década em que historiadores mais apegados ao marxismo tentaram provar que é a massa, tão relegada, quem verdadeiramente protagoniza os acontecimentos da história, vem Sangue Negro mostrar que a massa participa, sim, porém amorfa, sem um projeto para si. Como num Paul Johnson que se subverte em vilania, são os dois indivíduos singulares que dão perspectivas à multidão, porque somente eles têm a capacidade para tomar para si o rumo da vida. São sujeitos “viradores” – de que tomo a expressão – que suportam o penar dos anos, à espera da oportunidade que não deixarão escapar para se tornarem grandes. Enquanto o povo de Israel murmurava no deserto, Moisés sabia que, por mais que lhes custassem 40 anos, veriam a Terra prometida.

Fazer referência a Os Dez Mandamentos (1956) de Cecil B. DeMille não é uma licença poética, muito menos bíblica. É possível discorrer sobre Sangue Negro e fazer comparações, em um ou outro detalhe, com Vinhas da Ira (1940) de John Steinbeck, ou Assim Caminha a Humanidade (Giant, 1956) de John Stevens, ou, ainda toda a série de westerns de John Wayne, sem esquecer do Cidadão Kane de Orson Welles, com que o filme de Paul Thomas Anderson compartilha mais afinidades. Não seria o próprio Kane um desses homens de verve que, tal como o prospector de petróleo, segue a vida para cumprir sua missão de superação mesmo consciente de que, ao fim do caminho não encontrará a felicidade? Esta, então, não seria o fim natural de todo homem.

Antes que se pergunte qual é a Rosebud de Plainview, há que se concluir que aquelas referências não estão lá à toa. Elas tornam evidente o caráter clássico de Sangue Negro exatamente no ponto em que ele talvez se afirme como o primeiro grande clássico do cinema na pós-modernidade. A multiplicidade que, na fragmentação referencial, encontra sua unidade deixa-se coroar por uma trilha sonora atonal e dissonante, que por muitas vezes enerva e em outras rouba a cena. Nada mais liquidamente pós-moderno do que a trilha do guitarrista do Radiohead Jonny Greenwood, um mérito a mais.
E Rosebud? Para Plainview, assim como para Kane, essa pode ser a família que nunca se conseguiu. Por um instante, pensa-se que família, para o petroleiro, é só mais um componente dos negócios, mas, depois, se verá que ela poderia ser algo mais. Não somente ela, entretanto. Os filmes escolhidos para concorrer ao Oscar, este ano, compartilham sua Rosebud. Pode ser a divertida busca por um pai, em Juno, a defesa do povo (indivíduo e nação) diante da corporação desumanizada, em Conduta de Risco, ou a decadência moral que ascende diante de sujeitos acostumados com os tempos da ética weberiana. Sem sociologismos, tais filmes exploram uma América que se re-avalia em busca da identidade perdida no tempo em que uma palavra valia mais do que um escrito. Para eles, todavia, talvez não haja aquilo que com Desejo compartilha o título de outro filme, inglês, mas de mesma linha: reparação. Voltar ao passado pode ser uma mudança, promessa que mobiliza, em ano eleitoral.
Isso tudo, para dizer que não se deve correr ao camelô e nem esperar mais tempo para ver Sangue Negro. A imersão, que só se obtém em tela grande, é experiência, às vezes cansativa, que pede um verdadeiro clássico.

Assista o trailler do filme

Lançado curso de degustação de vinhos

por Victor Surerus

A série de cursos e aulas empreendidas no Centro Cultural das Laranjeiras (CCL) objetiva o aumento da conectividade entre todos os membros participantes das atividades regulares, podendo estes inserir seus amigos dentro do contexto do CCL.

Os atuais cursos e aulas destinados a cumprir o fim estabelecido anteriormente são: latim, grego, lírica e apreciação de Vinhos.

Neste contexto, o curso sobre vinhos traz para o público seleto e exigente, a perspectiva da aquisição de novos conhecimentos através de palestras ministradas por profissionais da mais alta qualidade técnica, com experiência em todos os níveis do processo de fabricação e degustação de vinhos.

Ministrado pelo enólogo Ademar Chies, ele conta com três módulos regulares: o primeiro trata-se do processo de elaboração, o segundo, teoriza a análise sensorial, e o terceiro, inclui o processo de escolha dos materiais necessários para potencializar a qualidade e a sensibilidade do degustador, bem como a degustação propriamente dita.

Para aqueles que ainda não fizeram a inscrição, segue a indicação de Tomás Medeiro: “A didática do enólogo Ademar bem como o material que ele utiliza, fazem com que a excelência e a fama do curso se transmita a todos os povos do planeta”. Não perca esta oportunidade de ingressar no cultuado grupo de especialistas em vinho. Ainda há tempo!

Carnaval em Macaé

por Claudemir Leandro

Não precisava muito para nos convencer a sair do Rio durante o carnaval carioca, mas este convívio mostrou, além dessa nossa tendência natural a fugir do caos urbano, toda a sua persuasão em convencer-nos que experiências como estas têm que ser repetidas, para os que foram, ou experimentadas, para os que cogitam fazê-lo.

Obviamente, sou suspeito em falar. Saímos na quinta, dia 31 de janeiro, com destino a uma grande fazenda em Macaé. Éramos três a priori, iríamos fazer alguns preparativos e aguardar a chegadas dos demais, outros catorze, que se realizaria no dia posterior. Não pegamos trânsito e fomos surpreendidos com um excelente jantar e, logo após, com um grande filme, foi este o meu contato inicial nesta viagem.

O tempo seguiu-se firme, coisa que surpreendeu até as previsões meteorológicas (excetuando a segunda) e, portanto, aconteceu o que se esperava, ou melhor, aconteceu melhor do que se esperava: futebol, gincana (a que vai meu elogio especial pela criatividade dos problemas), grandes palestras, passeio a cavalo, um maravilhoso churrasco, interessantes debates e bons filmes. Outra coisa que não pode ser esquecida também era o nível da comida, dentre tantos outros, lembro-me deste com especial saudosismo.

Sem excursões, idéia sabiamente proposta devido às experiências anteriores, este passeio teve seus momentos últimos nas praias de Rio das Ostras, fechando-o com chave de ouro e fazendo-me lembrar da frase de uma tão conhecida pessoa: A sorte me persegue?

De Laranjeiras ao Pontal da Barra, de bicicleta

por Raphael Teixeira



Dia 20 de janeiro, Raphael Teixeira e Duílio Santiago fizeram o que parecia impossível para muitos: Laranjeiras de bicicleta até o Pontal da Barra, ida e volta. Foram cerca de 100 km, passando por Botafogo, Lagoa, Avenida Niemeyer, São Conrado, Morro do Joá, Barra, Recreio e, finalmente, o Pontal.

O dia ajudou bastante: apesar de amanhecer nublado, logo o tempo abriu, e, com céu azul e suaves brisas, realizaram a travessia, o que os fez lamentar não ter passado o protetor solar ao longo de toda a semana. A chuva só veio no fim da excursão, quando já estavam na Lagoa, como um agradável refrigério depois de todo esforço despendido. Duílio, apesar de não estar nas suas melhores condições físicas, com ele mesmo admitiu (ao ter que descer da bike para enfrentar a subida do morro do Joá, afirmou: “antes eu subia esta montanha com o pé nas costas!”), pedalou muito bem até o final. Raphael, por sua vez, nem parecia o "veterano de 28 anos" encarou muito bem o Joá, tanto na ida como na volta.

Durante todo o passeio, imprescindível muita água e guaraná Viton. Alias, sobre o Viton, tiramos uma interessante lição de economia: impressionante a diversidade de valores do guaraná nos quiosques e ambulantes ao longo de toda a orla: encontramos preços com R$3,50 para 500ml, a R$ 1,00 por 290ml. Moral da história: não se deixe enganar pela miragem de um belo quiosque bem postado na praia, fruto de uma exaustiva pedalada: é melhor procurar o amigo que perambula com o isopor.


Na volta, ainda fizemos um pequeno desvio para ver a praia que fica no morro do Joá, ao lado do famoso clube Costa Brava. Enfim, depois de comemorar a realização do objetivo com relativa facilidade, nossos bikers já marcaram o próximo desafio: agora a meta fica mais distante, em Grumari. Vai encarar?